sábado, 18 de setembro de 2010

Vai briosa a Ana pelo caminho até à fonte da aldeia.
Levemente toca com seus pés no caminho de terra batida não quer levantar poeira nem acordar os bichos pachorrentos ou sequer matar uma formiga que seja.
Encosta os seus cabelos ao vento para se sentir mais airosa e princesa em castelos de sonho.
Suas mãos delicadas não calejadas pois ao trabalho duro são poupadas levam meio a medo um pequeno jarro de barro onde dormitará a fresca água da fonte da aldeia.
A saia jardim em seu corpo vai rodando e teimosamente se levanta um recanto como promessa de muito mais a quem para ali olhar.
Corpo esbelto o da briosa Ana que quando passa faz prender o ver de quem caminha mas com algum desdém se apresenta como torre do deserto prémio para não sei quem mas nunca para aqueles da sua aldeia.
Gosta de ler o seu livro de romances e dedelar linhas e linhas em rendas e paninhos que vão povoando uma arca dita do enxoval para ir bem dotada quando entregue ao príncipe dos seus sonhos.
Pelo caminho de terra batida vaia Ana deitando olhares à paisagem e apenas vês montes aqui com árvores além já só barrocos e suspira inconformada com tão parca visão.
A caminho da fonte da aldeia vai a briosa Ana sonhando com outros mundos terras e gentes, vestires cores e muito mais. Está cansada do isolamento da aldeia da pachorrice dos animais da velhice das gentes da simplicidade dos outros da monotonia dos dias e dos murmúrios do vento.
Vai briosa a jovem Ana a caminho da fonte da aldeia e descendo pela ladeira abeira-se do berço da água que lhe sacia os lábios e revê-se no cristalino espelho. É bela a jovem Ana de rosto cálido boca carnuda e olhos verdes grandes bordejados por longas e negras pestanas. Ajeita o seu cabelo preso ao lado por uma fita cor de azul e daria ela para uma estrela de cinema e em tão elevada posição deita a cabeça sobre o ombro para se tirar a fotografia premiada.
Que raiva pensa a jovem Ana ao turvar-se o espelho pois apaixonado ou apenas assustado saltou um sapo lá para fora onde o sol bate mais forte e as ervas banhadas nos pés pela água que sobra servem de habitat aos animaizinhos verdes.
Perdeu a paciência a briosa Ana que enche o seu jarro de água e o colocando à cintura sobe pelo caminho acima para em direcção à povoação se refugiar no seu lar.
Lá em casa na sua cama fofinha relê as revistas que vieram da cidade pelo tio Augusto que já faz para muitos anos que daqui partiu para regressar quinze dias por ano dizendo a boca cheia que não fica mais tempo pois sente falta do bulício da sua cidade.
Vê as imagens da praia onde se passeiam em biquini as belas mulheres, as montras das lojas onde se perdem imaginações, prédios tão doces lares, avenidas de passeio onde pessoas interessantes se cruzam, monumentos para conhecer de mão dada, ruas para percorrer sempre encontrando coisa nova.
Vai sonhando a briosa Ana e já disse a seus pais que um dia gostaria de conhecer a cidade e iria com seu tio que já a convidou dizendo que moça tão bela tão bem ficaria numa cidade como aquela.
Vai então realizar em dia o seu sonho e numa pequena mala leva alguma roupa só a mais moderna e esquece tudo o resto sem se despedir de quem seja parte entre lágrimas e sorrisos tímidos da sua família e apanha o comboio com o seu tio com destino à cidade.
Vai confiante a Ana a acredita no futuro brilhante e enquanto o pouca-terra pouca-gente vai remando ao longo dos carris a jovem Ana vai fazendo planos e conversas e o vidro da paisagem transparece o seu sorriso já vitorioso.
Chega a jovem Ana ao destino e com o mesmo ar brioso caminha por entre o tapete asfaltado não chamando a atenção de quem passa mas sendo mais uma entre tantos e sorrindo permanece ao lado do seu tio com quem se sente confiante.
Seguiram-se dias de pesquisa e muito se viu e andava ela numa roda-viva de lá para cá e gente foi conhecendo e nos cafés foi entrando para se sentar e esperar e os jovens foram tomando lugar a seu lado com conversas insinuantes.
Sentia-se poderosa já com roupa bem na moda e logo os olhares se voltavam para aquele corpo esbelto e com sorriso cativante procurava despachar a arraia-miúda e dando trela àqueles de promessas se deleitava em entregas como campo de trigo que se semeia para depois colher.
Sentia a falsa paixão dos homens que sussurrando ao ouvido a elevavam a rainha e lhe ofereciam palácios de cristal e a eles se entregava primeiro com temor depois com esperança que era aquele e mais tarde com o desespero que já tudo havia perdido mas que ainda havia de conseguir.
A briosa Ana anda agora pela cidade à procura das imagens das revistas e perdida pelo desencanto sente saudade da sua aldeia mas é tarde para voltar pois o seu rosto desbotou e já perdeu o ar airoso que tinha quando pisava o chão de terra batida.
A briosa Ana percorre agora as ruas da cidade à procura do seu sonho e em cada esquina jura que o encontrou mas apenas mais uma vez se enganou e o seu corpo esbelto foi aproveitado para mais uma hora de prazer e as promessas ditas rasgadas foram pelas mãos que o seu corpo percorreram dizendo que sim que sim.
Levemente toca a briosa Ana com seus pés no passeio de calçada pois não quer acordar o mendigo ou o chulo da rua nem ser vista ou porque se quer ainda mostrar elegante no seu caminhar pela cidade.
Os seus cabelos já não voam nas mãos do vento mas se acasalam com paredes sujas e imundas onde a briosa Ana descansa seu pensar na dor do desencanto.
As mãos da menos jovem Ana entrecruzam-se não sabe se em preces ou em perdão mas se aquecem uma á outra e amanhã segurarão o corpinho de uma criança gerada incógnita que fez brotar dos olhos verdes da mulher Ana a mais cristalina fonte da aldeia.
Dorme agora em seus braços arreigada ao peito da briosa Ana uma linda menina que não crescerá na cidade para não se perder mas sim na aldeia de gente idosa e simples porque ali o vento passa e a paisagem permanece as pessoas olham mas não imundam as almas crescem e não se perdem.
Sente vergonha a briosa Ana ao pisar o caminho de terra batida mas relembrando o passado vai construído o futuro e o tempo tudo esbate e agora pelo caminho da fonte vai a briosa Ana de mão na mão da sua filha.
São dois rostos que no presente sorriem ao espelho de água que já não se leva para casa pois já pinga na torneira mas é agora local de conversa partilha de saberes e avisos de quem já sofreu com a vida por saber que nem todos os sonhos se realizam.
Vão briosas mãe e filha pelo caminho de terra batida e o vento esquentado por tanta beleza vai espreitando levantando as saias e trazendo de volta a promessa daquele que sempre ali estivera apaixonado olhando para a briosa Ana em silêncio com receio de lhe perguntar queres comigo namorar?
Lentamente a briosa Ana conhece e se dá a conhecer não tem pressa e os sonhos já morreram pois então há que acreditar que na sua terra aldeia o amor pode encontrar na gente humilde e simples de um homem que nada promete mas apenas o seu amor tem para dar.
Vai briosa a Ana pelo caminho da aldeia até à sua casa de cortinas brancas onde sorrindo encontra no jardim os seus dois rebentos e um rosto de homem que a trata como mulher e se lhe oferece como porto seguro numa paisagem que permanece e num vento que sussurra pouca-terra pouca-gente.
A rosa e o girassol

Costuma-se dizer que o silêncio é de ouro mas a minha filha estraga qualquer ditado popular. Assim sendo, tenho eu de todo os dias inventar uma história, que de preferência sejam comprida, para depois da conversa sobre a escola, preencher o vazio de uma viagem.
Num desses dias perdidos entre tantos outros inventei então a história da rosa e da girassol que reza assim:
Há muitos muitos séculos, antes do homem existir na terra, era o mundo governado por deuses, existia apenas a Natureza. Num lindo vale de tons verdes e arco-íris, rodeado de montanhas que vestiam carapuço de lã branca, com um lago bem no meio e um rio que ria um pouco mais além, vamos encontrar duas lindas flores: a rosa e a girassol.
A girassol, sem nada para mais fazer, e ao ver o seu rosto reflectido nas águas límpidas e calmas do lago, virou-se para a rosa e disse:
- eu sou uma linda flor. Tenho muitas pétalas, são longas e fortes. São da cor do sol que tudo ilumina e tudo abençoa. Fazem lembrar o ouro que reluz e é fonte de riqueza. Do meu olho brotam sementes castanhas que as abelhas adoram beijar para delas retirar o néctar e fazer o melhor mel. Essas sementes ficarão duras e servirão de alimento aos animais deste vale verdejante. Ah, como sou bonita. Ao contrário, acho-te a ti muito deslavada. A única coisa que tens de belo é o teu perfume que até acho um pouco enjoativo. Mal te abres num tufo de pétalas logo começas a esmorecer. Não tens piada alguma.
E a girassol, num gesto de desprezo empinava o seu rosto para o sol e ali ficava a banhar-se enquanto as rosa, sossegada, se espreguiçava á beira do lago vendo os peixes a piscar-lhe o olho ou a ouvir o chapinhar dos patinhos que, doidinhos pela natação, abanavam os rabinhos.
Todos os dias a girassol vinha com a mesma lengalenga até que a rosa lhe respondeu educadamente:
- cada um é como é. Ainda bem que tu és tão bela pois se tal não fosse o nosso jardim seria mais triste e as tuas palavras enchem de melodia o silêncio deste paraíso. E o meu perfume existe para criar à tua volta uma aura de bem-estar na qual tu te deleitas e encantas.
Ao ouvir estas palavras a girassol ficou ainda mais convencida e mais se pavoneava ao sol.
Um dia decidiu implicar com os picos que saltavam do corpo da rosa e esta defendeu-se airosamente alegando que era para evitar que os bichos por ela subissem acima. A girassol ria a bom rir.
O tempo foi passando e um dia, o deus criador da Natureza, desceu à terra para ver a sua obra e como tudo andava.
Pousou nas montanhas e elas reponderam:
- tudo vai bem ó deus. Somos imensas e temidas. Temos neve nos nossos picos e dominamos a paisagem com olho de falcão.
O deus ficou contente. Banhou-se depois nas águas do mar e ouviu:
- tudo vai bem ó deus. Sou imenso e salgado. No meu corpo navegam imensos peixes que se alimentam uns aos outros. Tenho grinaldas de flores a ornarem o meu colo e adoro a minha amante com quem me enrolo em banhos de maresia.
O deus ficou contente. Aninhou-se depois no colo de uma floresta e escutou:
- tudo vai bem ó deus. Somos majestosas e de cabeleira frondosa. Damos sombra e alimento. Nos nossos ramos fazem casa muitos pássaros e no nosso corpo muito bichinhos vivem.
O deus ficou contente. Sentou-se então, para descansar á beira do lago quando a girassol, atrevida, indagou o deus:
- ó deus, perdoai-me interromper o teu descanso mas diz-me lá se eu não sou a mais bela flor deste vale encantado. Muito mais bela que esta rosa espinhosa. Pois diz-me então ó deus.
O deus virou-se e olhou a girassol. Quis ouvir as razões de cada uma. O girassol falou do seu rosto, das suas sementes e do néctar dos deuses. A rosa falou do seu perfume e dos seus picos malandros. O deus pediu então um tempo para pensar e tomar uma decisão ponderada e justa. Subiu aos céus e voltou sete dias depois quando já a girassol pensava que o deus a tinha esquecido. Foram então estas as suas palavras:
- é verdade girassol: tens um farfalhudo colar de pétalas da cor do sol, sementes preciosas e um porte altivo. A rosa tem um perfume doce e espinhos menos doces mas, tem uma qualidade que tu não tens: a humildade. Por isso, vou julgar-te pela tua prepotência e vaidade desmedida capaz de humilhar os teus iguais. O teu rosto apenas terá beleza quando o sol surgir no horizonte e girará na terra como o sol gira no céu. À noite, quando o sol adormecer no horizonte o teu pescoço se dobrará e o teu rosto passará a noite a olhar a terra que te sustenta. A ti, rosa, pela tua humildade tornarei como flor das mulheres, símbolo da paixão e do amor, da humildade e da preserverança na vida pois apesar das críticas da girassol te mantiveste no teu caminho com vigor e o teus espinhos isso simbolizam. O teu perfume inebriará as mais renitentes moças, o teu botão será o símbolo das donzelas virgens e a tua flor aberta a mulher madura que é mãe.
Depois disto proferido o deus subiu aos céus e de lá olha para a girassol que se tornou escravo do sol e para a rosa que é sinal de mulher, mãe e Maria.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Morte lenta

Estava triste. Sentia-me só. A alma sentia vontade de correr pois só assim fugiria à solidão que a trocidava e até porque aqui não encontra doce leito. Mas ao que a alma quer o corpo não responde pois a inércia tomara conta dos seus movimentos, o desalento apoderara-se dos nervos e a vontade de perecer por terra era mais forte que a vontade de jubilar por viva estar.
As minhas mãos olhavam-se e perdiam-se em gestos de desespero esperando agarrar algo que nunca veio nunca vem e jamais virá.
Os meus pés presos ao chão esperavam ordem de à vontade para finalmente se esquecerem que andar deveriam.
Os meus olhos abarcavam o horizonte pois de fumaça é feito e apenas se percebem os contornos e nada de pormenor capta como se da minha existência apenas o longínquo tivesse algum sabor e eu valor algum tivesse.
A minha boca impávida e serena secou como fonte no deserto e foi machado no oásis de uma vida que tanto necessitava e nada recebia.
Os meus cabelos caídos esperavam o vento como tábua de salvação deste náufrago que no meio da multidão tão só se sente e não consegue lutar pela sua salvação quanto mais agarrar a bóia que já foi levada pela corrente do desespero.
Apenas o meu cérebro continua a reclamar a fuga possível a corrida para a verdadeira solidão o encontro final com as sensações da Natureza o embraçar de outros sons e cores o êxtase de sentir pois há uma eternidade este corpo nada sentia.
Quem era eu? Que mais queria neste momento? Era apenas um pedaço de carne do sexo feminino completa fisicamente imprópria para consumo e sem rótulo para enaltecer já que tudo o que eu fizera estava mal ou que dissera mal estava. Queria apenas fugir vontade de partir e tudo abandonar sem meu coração danar. A multidão passava e eu no meio do burburinho permanecia só e sozinha. Lentamente os pés mexeram, as mãos incitaram, os olhos procuraram e a boca esgueirou um sorriso de vitória enquanto os meus cabelos se pretendiam sentir como cavalo de crina ao vento. Atravessei a multidão e na densa floresta me embrenhei à procura da solidão verdadeira e de uma toca para a minha dor amargurada ou apenas de uma flor para com ela tudo partilhar (esperemos que depois disso ela não murche!). Estaquei cansada e nada mais pude reclamar ao meu corpo que sobre os joelhos caiu sentindo o verde musgo orvalhado sob as minhas pernas. Olhei e vi o verde e as árvores mil cores e as flores castanho branco ou amarelo de outras coisas mais. Era lindo o colo da Deusa-Mãe que como a minha me recebia em seus braços como protecção e todo o carinho e devoção me entregava à vida em gestos meigos e novelosos.
De joelhos reclamei:
- onde está o meu beijo? Diz-me tu ó vento que acaricias os meus cabelos e os enganas em doces promessas de dançarias!
E diz-lhe o vento que o beijo partira para a guerra e nela morreu solteiro pois vontade de ter irmão não era a sua. Tinha que viver sem beijo algum e fazer calar a vontade de uma boca sedenta mas desaproveitada e de uma romântica alma que no desespero por um beijo a um morto se sujeitava beijar.
- onde está o meu toque de pele? Diz-me tu ó vento que envolves o meu corpo e um fazer sentir prazer no teu toque como há muito não sentia e por tal falo em corpo feminino e não em mulher!
E diz-me o vento que o mar o englotiu e levou para os seus castelos mais secretos e o deu aos corais algas e peixes para que pudessem tocar a musica de embalar as ondas.
- onde está o meu prazer de ser mulher? Diz-me tu ó vento que pareces arrancar a alma do meu perdido corpo para que a possas levar para tão singelas planícies elisías onde abundam as searas que se beijam em frufrus se tocam sensualmente e amor fazem nascendo pois uma papoila vermelha de paixão pela emoção de sentir!
E diz-me o vento que a terra a massacrou em jaula bem esboroenta pois a semente estéril estava e nada dela brotou e por isso nada de amar fazia sentido e despropositado era dar-me o prazer de mulher me sentir.
- diz-me ó vento pois então que faço eu aqui perante o teu altar onde acalento o meu ser e despejo os meus sonhos incongruentes e falsos por na realidade a nada se assemelharem.
- digo-te eu que aqui permaneces pois comigo os beijos quentes no teu corpo sentes e isso alento te dá, porque comigo sentes prazer de ser tocada de forma tão simples que faz estremecer teu corpo sedento, porque comigo sentes as sensações de amar e ter prazer, a volúpia dos sentidos quando te abraço com mais força e faço esvoaçar teus cabelos como das mãos de um homem se tratasse em jeito de preliminar.
- sim. Aqui permaneço contigo porque tu me dás o prazer de sentir e ser sentida. Mas, por favor, rasga meu peito e leva dele esta dor que me está a matar. Lenta, lentamente.

Sufocos

Sentia-me sufocado.
Não sabia explicar aquela aflição que me toldava os sentidos e me incitava a acções pelas quais se punia por as pensar.
Tudo à minha volta era perfeito mas faltava qualquer coisa.
Ela fizera tudo para me fazer feliz, para fazer de mim o homem que sou hoje.
Foi ela que tudo empenhou para educar os nossos filhos.
Foi ela que abdicou de tanto para estar ao meu lado.
Foi dela que recebi a companhia em todos os momentos, o amor que me tornava criança, o carinho especial em qualquer situação e lugar, o olhar incitante a tanto gesto ou apenas comprometido.
Foi com ela que conversei, ouvi e falei.
Foi com ela que fiz planos, chorei e ri.
Mas afinal o que falta? O que justifica este meu mal-estar? O que me faz sentir esta dor de coração lenta e mordente?
Que sufoco.
Que calor.
Que sede.
Tenho de sair.
Saio para a rua e o sangue começa a ferver quando reparo nas mulheres com quem me cruzo. Há as que me são indiferentes. Mas outras há que despertam em mim este animal masculino que anda amansado por uma vida caseira que julgava suficiente. A sua beleza e elegância, o sorriso, o olhar sensual e provocante quando olham para mim. O movimento dos corpos femininos que em curvas sinuantes se perfilam à frente dos meus olhos faz-me querê-las. Tê-las a meu lado. Iniciar o ritual do despir com a excitação de uma criança que lambe um gelado. Jogar a roupa no chão como âncora de um navio que se quer afundar num mar de corais rosa. Tocar-lhes o corpo em todos os pormenores despertando orgasmos nesse corpo de mulher. Sentir o som da sua pele com o mesmo fascínio de uma tempestade. Despertar-lhes excitação e o prazer de serem mulheres. Beijar todos os seus recantos como o colibri à procura de mel. Sentir na sua boca o pulsar de um coração que parece sufocar de loucura. Ser capaz de amar, amar e amar continuamente como se tudo acabasse ali e nada mais existisse.
Sim. É isso que me falta.
Falta-me o prazer de sentir outras mulheres.
Falta-me o prazer de experimentar corpos novos como se fosse navegante em oceanos perdidos.
Falta-me o prazer de despertar noutras mulheres a extrema excitação.
O gemido.
O grito.
Aperto a cabeça louca entre as mãos que ambicionam percorrer outros caminhos. Fecho os olhos e apenas sinto o odor do corpo que cobiço. A minha boca sedenta imita uma flor que se abre e fecha ao sabor do sol e que espera ansiosamente pelo bico que a penetre.
Olho o céu a ali vejo as mais belas anjas que me sorriem e elevam até outros patamares da Humanidade – que diabinhas!
Refugio-me numa praia onde o areal deserto me permite respirar.
Mas o ondular da areia lembra-me o perfil de uma mulher.
Refugio-me numa praia onde o mar me dá calma.
Mas o ir e vir das ondas lembra-me o prazer de penetrar uma mulher.
Refugio-me numa praia onde o horizonte me transforma.
Mas a calmia da água salgada lembra-me os corpos suados depois do orgasmo pleno.
Refugio-me numa praia onde o sol me aquece a alma.
Mas o esplanar do sol sobre a praia lembra-me a sensação de partilha quando os corpos se tornam um só numa orgia de sensualidade.
Derrotado caio por terra e enterros os dedos na areia. É o corpo de mulher que eu toco e apalpo e mexo e remexo numa volúpia de sentires que não mais quero parar.
O sol quente, o mar vibrante, a areia sensual, o horizonte a perder de vista, tudo se conjuga no verbo prazer e eu perco os sentidos porque a vontade de descobrir toma conta da minha existência.
Sinto uma leve brisa.
Espero e sinto.
Sinto umas doces e macias mãos que me tocam no pescoço e iniciam a descida pelo meu peito e apertam com vontade os meus mamilos. Enrolam-se os atrevidos dedos nos meus pêlos e despertam-me pequenos prazeres que nunca sentira.
Uma respiração serena sopra junto ao meu ouvido que a recebe como concha do mar. Torna-se ofegante à medida que os gestos incitam emoções mais profundas, desejos de mais prazer. As mãos vão descendo mais ainda até ao centro do meu universo. Não aguento mais esta ânsia. Quero tocar e beijar quem me faz vibrar. De um só golpe arrebato a mulher que me desperta e deposito-a no leito que fervilha.
Beijo-a nos lábios. Beijo-lhe os mamilos duros de excitação. Percorro os seus caminhos. Descubro pequenos paraísos para encostar a imaginação. Ela está pronta a receber-me. Sob o calor do sol e ao som do mar entrego-me e ela entrega-se. O prazer emanado dos nossos corpos sufoca o sol quente. O mar curva-se aos nossos orgasmos. A maresia encrespa-se ao ouvir os nossos fôlegos arfantes. Os dois corpos enrolam-se num só. Livres de preceitos, esquecendo tudo o resto, sentindo apenas.
Eu o Homem, ela a Mulher.
Percorro agora as avenidas longas à procura de outro mais.
Quero vibrar.
Quero sentir-me vivo.
Quero sentir-me de novo um jovem amante.
Preciso de sentir a excitação, o pulsar, a volúpia dos sentidos e das emoções.
Parto à aventura.
Entrego-me completamente.
Partilho prazeres e sensações.
Reinvento a paixão
Redescubro o amor.
Aporto em vários cais e atraco o meu barco.
Conheço paisagens diferentes.
Por umas me apaixono. Por outras me entrego apenas.
Mas por uma montanha me perdi.
Olho para trás e vejo…
Aquilo que esqueci.
Aquilo que deixei de respeitar.
Aquilo que deixei de amar.
O tempo escoa por entre os dedos.
É tempo de levantar âncora.
Em todos os portos se levantam monstrengos e as correntes tornam-me um errante.
Onde estão as minhas amarras?
Onde está o meu porto seguro?
Onde posso descansar o meu corpo?
Onde posso sossegar este coração que tanto se inquietou?
O tempo escoa por entre os dedos.
Será que ainda vou a tempo de recuperar tudo o que esqueci?
Entro em casa.
Ela está ali. Sorri.
Ela procura-me. Eu quero fugir.
Ela insiste. Eu acredito que ela percebeu a minha fuga.
Ela toca-me.
Eu desperto. Lentamente. De uma forma mais doce. Sem tempestades. Sem vulcões.
Ela rompe a minha capa e deleita-se.
Sim. Sobre um pano de veludo sinto-me amado, seguro, querido. Não tenho mais medo do tempo. Entrego-me à doce Terra e sinto toda a sua paz e calmaria.
Olho para trás.
O que ficou?
Apenas vãs ilusões. Momentos vibrantes mas passageiros. Sensações imensas mas superficiais. Senti-me o maior sim, mas não seguro. Senti-me um homem sim, mas não um Homem.
Quero esquecer tudo. Tenho de esquecer tudo.
Pedir perdão por tudo.
Perco os sentidos.
Sinto-me correr com a serenidade das emoções.
Agora… sou um rio que galga a mais bela das colinas verdejantes.
E sinto-me feliz por isso…
Nem que a alma de aventureiro esteja dilacerada!

Carta de amor...

Tremo só de pensar que vos escrevo esta carta.
Não porque mo custe fazer porque sempre temos de conversa mas por causa do seu objectivo.
Não será decerto mui digno da minha parte declarar-vos o meu amor por vós mas é mais forte que eu esta minha vontade de partilhar este sentimento que arfa no meu peito e me deixa numa inconstância terrível.
Seja cego, surdo ou mudo, qualquer outro poderá reparar neste meu impreparo amor que me faz sorrir sem razão ou corar à menor brisa.
Rogo-vos que não tenhais por mim desprezo por esta ousadia mas creio que, depois das nossas conversas e olhares, sinto em si a mesma vontade de estar junto, de partilhar, de beijar e amar até mais não poder.
Compreenderei se uma aventura amorosa não quiserdes ter comigo… afinal… sou casada. Mas peço-vos encarecidamente. Sabeis que este casamento apenas existe por interesse social e nada de amor, amizade ou compreensão nele habita. Esta casa é isso apenas e não um ninho ou lar para onde se deseja regressar. Nos últimos tempos, apenas a vossa companhia me dá o tão ambicionado alento para suportar esta minha existência em algo medíocre e fútil.
Tenho a firme certeza que será em seus braços que irei encontrar o prazer de ser mulher, o despertar dos mais profundos sentidos do prazer, as tão desejadas emoções de sentir amar.
Rogo-vos, não vos apartais de mim porque a minha existência sem vós não faz mais sentido. Mas, se por minha infelicidade, não quiserdes partilhar comigo o verdadeiro sentido do amor, partinde para nunca mais voltar porque maior dor de não viver é ter ao lado e não poder beber desse cálice.

De quem se atreve a dizer amo-te
CS

Cartas de amor...

Poderia começar eu por vos dizer a mais banal mas poderosa frase que vos amo do fundo do meu coração, com todo o meu corpo e alma.
Poderia alegar que sem vós nada mais tem sentido e a vida se esfuma sem sabor.
Poderia reclamar deste sentimento que me tolda os sentidos, que me enibria as vontades, que me altera os modos.
Mas… sabei vós meu eterno amor que de todo isso vos direi. Irei, neste doce leito, bordar outras palavras, enfeitar outros pensares, proclamar outros saberes e sabores.
Sob a serenidade de um corpo transparente de rio sereno e apaziguado vejo emergir a mais bela das nereides. O rosto é de um beleza eterna e tão pura que as plantas à beira rio se curvam em homenagem e vergonha e beijam a água cristal de onde tu emerges, minha amada.
Na leveza de uma ventania que se enrosca nas copas verdes das árvores se aninha a mais linda das fadas. O vento, seu criado, tapete volante, faz questão de lhe mostrar as mais infinitas maravilhas da Terra, para no fim da viagem, perceberes tu, minha doce amada, que nada há mais belo que tu.
A perder de vista se espraia um belo corpo verdejante que se deixa beijar pelas mais multicolores flores. Mas… em verdade vos afirmo… o mais maravilhoso corpo é o vosso que nas doces curvas enche a paisagem de erotismo e faz nascer desejos de pertença aos mais humilde dos seres.
Pois escutais estas minhas palavras, retiradas de um pensamento apaixonado que, para onde quer que se volte, em qualquer pedaço de Natureza, encontra a mulher amada e a deseja avidamente para se completar e ser imensamente feliz.

O teu amante
AS

Duas torres!

Duas torres se erguem na paisagem.
Uma de marfim.
Outra de madeira.
Uma concebe um tecto frondoso a quem lá habita servindo de doce lar recanto de risos, alegrias, prazeres, conversas, sentimentos, brincadeiras, trocas e partilhas partes de uma vivência de gente educada que procura na vida aproveitar cada momento com intensidade.
É ali que a esposa recebe a graça dos seus filhos os toma em seus braços e vai acarinhando com sorriso aqui ou raspanete além o fruto do seu amor e quer fazer crescer como flor de um jardim para que mais tarde sejam ricos seres humanos num mundo em que tanta falta deles há.
É ali que a esposa apronta a janta para que á mesa a família se reúna em deleites de paladares misturados com conversas de como correu o dia ou de como eu fiz o meu dói-dói ou como o teu namoro vai ou ainda como foi mais um dia de trabalho ou também e porque não o tempo não está nada bom para se podarem as árvores do pomar.
É ali que a esposa ajeita a flor no solitário tira o pó teimosamente lava o chão para ser espelho de um céu passa roupa ou lava a louça ou reparte esse serviço com outro alguém para que para si tenha tempo pois a isso merece como mulher de pleno direito. Seja um livro que se vai lendo em pequeno tragos ou um pôr-do-sol para ser bebido entre pestanejares ou o jardim para retocar como rosto de mulher a assomar á passerelle ou simplesmente passear com alguém ou só tricotando conversas banais ou um pouco mais sérias misturando gargalhadas sinceras. Gosta ela de se sentar numa espreguiçadeira e sentir o tempo passar ou de passear no jardim que borda o lado nascente da casa onde muitas vezes seu marido amante lhe faz a magia de aparecer como colibri e em apenas alguns minutos a faz transportar a outra galáxia e a deixa cair de manso sobre veludo com a promessa de mais logo mais á noite.
É ali que ela chega depois de desempenhar funções para um patrão e encontra naquela torre o seu refugio do bulício diário barco de salvação para os problemas do dia almofada fofinha onde descansa o paraíso pois ali tem os seus prolongamentos naqueles que mais ama. Tudo se esquece ou transforma ao passar aquela porta e é ali que se partilha…partilha tudo carinhos e esperanças sonhos e promessas tentativas e derrotas olhares e pensamentos!
É ali que o marido chega cansado mas airoso pois sabe do rosto amigo que o espera bem como do beijo que ai depositará e que mais tarde será razão para tantas outras tropelias às escuras em recantos que se falassem muito contariam das horas de prazer que já sorveram. Entra e beija a sua esposa e tudo esquece de problemas discussões ou o montão de papelada que tem para preencher e corre atrás dos filhos que fogem porque é momento de brincar um pouco e depois feliz esquece o cansaço e ajuda os filhos que tentam resolver questões e avia a postura da mesa para que rápido todos juntos passam saborear e conversar. Ao lado daquela que escolheu tem tempo de passar a mão pelo seu corpo numa carícia discreta que logo é vista de soslaio pelos petizes que riem baixinho porque acham piada ao casalinho e gostam de os ver namorar e dizem que é como na telenovela que espreitaram no outro dia. Não se esquece muitas vezes de trazer uma pequena flor que diz roubara no quintal da vizinha alegando que estavam tão bonitas e logo ali á mão de semear a tombar para a rua que era uma pena ficar ou outro alguém por lá passaria antes para ti minha amora!
É ali que se vivem intensidades quando num breve momento tudo pára numa dança e apenas os corpos se unem ao brilho de uma música que excita mais do que acalma e extasia bocas e beijos eternamente se vão selando a abraços de toque de pele sensuais despertando tudo o que de mais intimo há e se termina a noite no tapete da sala junto à lareira crepitante.
É ali que se diz sim ou não e se respeita o outro e se ouve a sua opinião e se admite não saber ou imperfeição pois é o primeiro passo para se procurar a perfeição e se discute calmamente sem alteios de voz pois a tempestade fala mais alto e bom presságio não traz no ventre e se pensa em conjunto e se espera pelo outro porque cada momento tem o seu tempo e nada se pode sobrepor a não ser os corpos dos amantes.
Na torre de marfim diz o pardal que debica na árvore plantada em família logo ali junto à janela da cozinha que há alegria amor compreensão amizade e paciência.
Na torre de madeira o tecto não é tão frondoso pois mais parece casa de ocasião onde por apenas alguns dias tudo pode ficar assim mas na verdade de uma situação temporária se passa a definitivo porque se alega que ninguém merece ou tem direito e por muito que se labute parece nunca um lar mas ingenuamente um depósito ou ponto de passagem entre dois mundos ou margens de uma só vida. Muitos sonhos se construíram muitas falas foram pronunciadas e agora uma desculpa apenas se dá para que nada se erga ou altere e sobre os seus ombros qual Atlas com mundo sobre as costas também ela acarreta as culpas que sempre morrem solitárias pois marido não encontram. Não serve essa torre de madeira a um lar muito doce mas muito amargo pouco amigo mas com muitos desencantos com poucas partilhas e muitos silêncios. A vontade é pouco de naquelas torre permanecer porque lá dentro o ar sufoca e as almas vão morrendo devagarinho de forma dilacerante e sem voz para gritar por socorro e já perdendo o viso ou a vontade de fazer desmoronar mas sempre lutando com esperança que essa é a última que morre vai erguendo cartas do baralho do castelo para aqui e acolá encontrar ancoradouros para a sua alma.
É naquela torre que a mulher guarda com mais desvelo ainda a graça que lhe foi concedida e com sorriso ou raspanete vai tentando erguer como torre de marfim para pedindo desculpa pela vivência a que foi condenada e possa sentir do seu ser emanar o amor que necessita para crescer como junco à beira do rio. Olha o presente e relembra o passado e nada foi assim como é agora e vê que nada é merecido talvez sim talvez não pois também é pecadora e tudo procura como agulha em palheiro para justificar este apontamento.
É naquela torre que a mulher apronta a janta na mais uma vez vã esperança que à mesa tudo se partilhe os risos venham descarados a conversa seja tudo menos criticas e acusações ou espetadelas e alfinetadas e que o silêncio não tenha que imperar pois é melhor que a conversa muda ou com retorno desmedido ou bem condimentado!
É naquela torre que a mulher ajeita o ramo na jarra para dar um ar mais humano e vivo tira o pó teimosamente lava o chão para tudo parecer melhor passa roupa ou lava a louça pois a isso se sente na obrigação. E o seu tempo perguntamos nós. O seu tempo tem tempo virá quando já for noite para que possa bisbilhotar num livro que se vai esmorecendo à cabeceira ou pintar um momento de vida ou sentir o calor da lua no umbral de uma janela que mal se quer abrir. Ficará por ali mesmo pois não há tempo para mais ou simplesmente vontade ou até receio de chocar com vontades e palavras do outro tu lembrando sempre aquele encanto que tudo justifica na sua existência e que agora dorme serenamente e a quem em qual narizito deposito um doce beijo. Aceita o seu tempo vontades e relampejares mas porque é assim mas por si não tem mola para lutar e ali fica passiva essa mulher que nem sempre assim se sente e só por breves segundos frente ao espelho o corpo meio disforme escondido sob trajar mais elegante a faz sentir um pouco menos feia mais confiante e forte e singelamente mulher.
É naquela torre que ela chega depois de desempenhar funções para um patrão e ali encontra o matadouro da sua alma pois terá se transformar de esquecer o riso franco a conversa leve ou sincera e ser mais um dia a culpada de todos os males da Humanidade inclusive o das mulheres terem o período e nada encontrar de diferente do dia anterior e nada mais poder partilhar a não ser a presença física. O ar que se torna enfadonho a vontade de fugir mas que a esperança continua a castrar o desespero de sentir a alma voar e o corpo não fazer o mesmo ao ver a outra a ser beijada fogosamente e o corpo ávido vai morrendo lentamente pois sem carinho já vive há muito anos e vai sobrevivendo em sonhos e fantasias e em carinhos alheios que vai pescando. O descanso que não vem o beijo que não se atreve o olhar que não se cruz o carinho que não desponta a conversa que não se desenrasca o paraíso ao qual não temos direito neste mundo a vida que passa ao lado e apenas se sobrevive e se deixa a vida para outros momentos fora daquela torre de madeira.
É àquela torre que o marido chega cansado e enfadado logo à partida mal disposto por ali assomar e nada deitar costas atrás e esquece e muito menos se lembra do ser humano que ali está à sua espera e nunca jamais se lembra do tal beijo tantas vezes reclamado e agora já nem pedido pois até isso se cansou ela de fazer a não ser quando quer dar a volta por cima mas não adianta pois a vontade masculina impera e nada se transforma. Pois não merece ou não tem mesmo direito a um carinho desprendido de interesse mas continua a desempenhar a sua função na saúde e na doença na alegria e na tristeza e pergunta ou estão as suas coisas positivas e olha o futuro e até lhe parece lobrigar a esperança mas coitada precisa de óculos pois se fosse a contar momentos de verdadeira felicidade chegariam os dedos de um mutilado pois já lá vai o tempo das vacas gordas que agora é mais o das esqueléticas pois entre segundos de alegria logo rebentam horas de desalento. Entra e não a beija e até mal responde às suas perguntas mal formuladas cansativas curiosas e aborrecidas para as quais não há santo que ature quanto mais um comum dos mortais e se senta e ali fica alheio metido nos seus afazeres ou pensamentos sem olhar em redor perceber se está tudo bem ou não se o olhar dela é mais triste e porque se o seu prolongamento que se refugia dele está desempenhando correctamente o seu trabalho e não pergunta como foi o dia nem disso tem interesse. Perscrutando o horizonte futuro esquece do presente e daqueles que ali estão e oblitera momentos de maior intimidade e o seu calendário social está preenchido com outros seres que com aqueles que só pedem atenção carinho e compreensão pois isso estão sempre dispostos a dar mas será que ainda estão? Num momento sim noutro já não pois quando vento traz notícias de vontade assim a alma se alegra e pensa que é agora mas logo quando a tempestade rebenta a alma percebe que tudo foi um embuste e mais uma vez foi enganada troçada e explorada. Onde estão os beijos calientes que só em sonho acontecem com corpos sem rosto como aquele que puxa pelo seu braço e lhe diz que a ama e tombando-a como ponte sobre o rio em seus braços a beija eternamente. Onde estão os momentos mais íntimos de confissões corporais onde a volúpia dos prazeres levará á loucura mas com pena se repetem os mesmos gestos uma duas três quatro vezes e nada se altera e nem mais nem menos e se contenta com tão pouco porque mais vale um pássaro na mão que dois a voar e sem nada ter não conseguiria viver e assim ao pouco vai somando sonhos e daí resulta uma sobrevivência pouco digna mas com sempre esperança esperançada.
É naquela torre que se calam palavras e gestos pensamentos e dores alegrias e vontades pois não há tempo para respeitos imperfeições ou indecisões esperas ou opiniões em construção e como diz o milhafre que a papa procura com seu bico de sangue na torre de madeira muita ventania sopra em dia de estio e muito gelo tomba em hora de luar.